Povo Huni Kuin

O povo Huni Kuin é uma etnia indígena que pertence ao tronco linguístico da família Pano e habita a região da floresta amazônica no Acre e parte do Peru. Sua população no Brasil é de cerca de 14 mil pessoas (Censo 2022), sendo a etnia mais populosa do estado do Acre, dividida em 12 terras indígenas e também em áreas urbanas.

Costumam estabelecer suas aldeias às margens dos rios, entre eles Jordão, Tarauacá, Humaitá, Breu, Purus, Muru e Envira. Do lado peruano estão nos rios Purus e Curanja. Além disso, existem muitos Huni Kuin que atualmente vivem em zonas urbanas nas cidades acreanas.

Contexto histórico

Os Huni Kuin dividem sua história em cinco períodos: o tempo das malocas, o tempo das correrias, o tempo dos barracões, o tempo dos direitos e o novo tempo.

1. O Tempo das Malocas: Esse foi o período antes do contato com os colonizadores, os Huni Kuin viviam em grandes “malocas” coletivas, caçando, pescando, cultivando e coletando. Eram semi-nomades e viviam de forma autônoma praticando sua cultura. 

2. O Tempo das Correrias: Marcada pela violenta invasão de não-indígenas em seus territórios essa foi uma época de grande sofrimento, o povo vivia em constantes fugas para escapar do extermínio. O deslocamento forçado e repentino levou, entre tantas coisas, à perda de sementes de diversos cultivos tradicionais e contaminação por doenças’.

3. O Tempo dos Barracões: O triste e sofrido período da escravidão no barracões dos seringais, no qual os Huni Kuin foram forçados a trabalhar na extração da borracha. Para além da exploração do trabalho essa época foi marcada por terríveis perdas culturais. O povo era impedido de falar sua língua e praticar sua cultura.

4. O Tempo dos Direitos: Período marcado pela demarcação de seus territórios, conquista alcançada através de muita luta. Começam a surgir associações e cresce a busca por conhecer os próprios direitos e  garantir a própria liberdade para praticar sua1.. cultura e modo de vida tradicional.

5. O Novo Tempo:  Considerado o período atual marca a valorização, resgate e compartilhamento da própria cultura e cosmovisão, através de pesquisas, festivais, viagens, projetos e vivências em alianças com outros povos indígenas ou não.

Para além dos tempos históricos nós acreditamos também no “Tempo das Mulheres”, esse momento do crescimento da autonomia e autogestão feminina, reivindicação de seus espaços de protagonismo e valorização de seus saberes e fazeres.

Território

O Instituto Ainbu Daya abrange cerca de 44 aldeias em três territórios indígenas no estado do Acre. Dois são localizados às margens do Rio Jordão (Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão e TI Kaxinawá do Baixo Jordão) e um na região da cabeceira do Rio Tarauacá (TI Seringal Independência)

(MAPA DAS TI: Mapas TI)

O município mais próximo das terras indígenas é o Jordão, atual sede do Instituto. A cidade é considerada isolada, pois não possui conexão por via terrestre para o resto do estado, sendo possível chegar somente por meio de vias aéreas (através de serviços de aerotáxi) ou fluviais (vários dias pelo rio Tarauacá, a depender das condições climáticas). As aldeias são alcançadas, partindo do município, também por via fluvial.

Seu isolamento é um fator determinante na dificuldade na execução de projetos, escoamento de artesanato, acesso à saúde, bancos, órgãos públicos, entre outros. Ao mesmo tempo também é notável a preservação da cultura e idioma da etnia na região em comparação com outras terras.

Saberes artesanais ancestrais

O povo Huni Kuin é conhecido, dentre outras coisas, pela beleza de seus artesanatos e grafismos sagrados (kene). A beleza, a espiritualidade, a arte e os saberes manuais ancestrais se interconectam em seus ofícios. As artesanias mais importantes das mulheres são:

Tecelagem –  Uma das artes mais preciosas do povo Huni Kuin, sua técnica ancestral passa pelo cultivo do algodão, o processo de fiar e tingir as linhas com pigmentos naturais da floresta, até finalmente chegar à prática do tear de cintura, no qual são tecidos os kene (grafismos). Hoje também usam-se linhas industriais para tecer. Redes, roupas, bolsas, toalhas, faixas de cabelo e outros adereços são produzidos com essas técnicas.

Palha trançada – Através de técnicas milenares passadas de geração em geração são confeccionados abanos para o fogo; esteiras, cestos de variados tamanhos e formas e outros objetos utilitários de suma importância no cotidiano das famílias. As palhas de diversas espécies são colhidas na floresta sem derrubar as palmeiras, sempre respeitando-se o ciclo de regeneração da planta.

Cerâmica – Para a produção de cerâmica as Huni Kuin vão juntas coletar o barro na floresta, sempre com a orientação das mestras é feita uma mistura com areia fina do rio. Com o barro pronto para trabalhar são produzidos diversos utensílios como panelas, jarros, cumbucas e vasos para fermentação da mandioca. Estes objetos podem ser ou não pintados com grafismos e são usados cotidianamente, expressando beleza e ancestralidade.

Arte em miçangas – O uso das miçangas de vidro pelos povos indígenas remonta a época dos primeiros contatos. As mulheres Huni Kuin logo se tornaram exímias na arte de fazer adereços desenhando com as contas seus grafismos sagrados, os kene. Com as miçangas são confeccionados todo o tipo de adereços, desde colares, pulseiras, brincos e até bolsas e tops.

Arte com sementes e penas – Adereços como colares, brincos, pulseiras e cocares são confeccionados com sementes coletadas ou cultivadas, penas e dentes de animais caçados para alimento também são usados para essa produção. Esses materiais são elementos que possuem significados além da estética.

Kene Kuin – Grafismos sagrados ancestrais do povo Huni Kuin. Reconhecido em 2023 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, o Kene Kuĩ representa muito mais que uma expressão artística, é uma linguagem visual que transmite conhecimentos sobre a cosmologia, as relações sociais, os rituais e o modo de vida desse povo.

Tradicionalmente, sua produção é conduzida por mulheres, chamadas de ainbu keneya (mestras do desenho), guardiãs dos saberes sobre o plantio do algodão, o tingimento natural, a tecelagem e a pintura corporal. Os grafismos são considerados a “língua dos yuxin” (espíritos da floresta) e simbolizam a conexão espiritual entre humanos e natureza. Estes são aplicados em tecelagens, cerâmicas, cestas, redes, miçangas e corpos.

Mais do que ornamentos, os Kene expressam a identidade, memória e ancestralidade Huni Kuin, sendo considerados caminhos de conhecimento transmitidos entre gerações e fundamentais para a preservação cultural e espiritual do povo.